sábado, 20 de outubro de 2007

Uma reforma


Era uma manhã fria do mês de Agosto, o sol timidamente cortava com seus fracos raios a neblina, que cobria as ruas daquela pequena cidade do interior. Pelas calçadas vestígios de uma noite de chuva e as poças refletiam a imagem de D.Luiza, que andava calmamente desviando-se das folhas acumuladas pelo vento.
Depois de dois anos após a perda de suas paixões, ela havia se mudado de cidade, pois tudo a lembrava aquele dia de perda. Então, driblando o medo de ficar e mesmo o de partir, mudou-se de ares, tinha uma parenta, também viúva, que a convidará a morar contigo, disse que assim, as duas se faziam companhia e que também poderiam superar juntas a falta que sentiam dos maridos.
Sem ter muitas opções, D.Luiza aceitou o convite, vendera a sua antiga casa, doou os móveis e entregou as roupas do falecido para o asilo, subiu para o ônibus apenas com o dinheiro e a roupa que estava no corpo. Rompia definitivamente com tudo aquilo que a prendia ao passado.
Mas, as suas madrugadas eram cruéis, a conduziam, inconscientemente, as marcas deixadas por aqueles dias de tempestade. E como se não houvesse nenhum abrigo seguro isso ainda a atormentava. Muitas noites de pesadelo se acumularam, ficando ela com saldo negativo em sonhos, mas, com o tempo toda a poeira se assentou e foi quando ela começou a respirar com mais facilidade, sem sentir o peso do pó em seus pulmões.
Judite, sua agora companheira de casa, quis fazer uma reforma, achava que as paredes estavam feias e mofadas, como seu coração, queria mais vida por ali e então uma obra ela decidiu iniciar. Consultou um amigo que entendia de construções e saiu em busca de alguém que pudesse lhe mudar as paredes e a alma.
Depois de muito pesquisar, pois não queria alguém que não fosse de confiança dentro de sua casa, principalmente elas sendo tão sozinhas, isso poderia dar o que falar, então, ela contratou Seu Pedro, senhor distinto, bom pedreiro, afamado por toda região, sabia aplicar uma textura como poucos e, além disso, era rápido. Ficaram acertados todos os detalhes e cores, marcando o início da reforma já para o dia seguinte.
Logo cedo, quando mal os galos haviam cantado, ele encostou a bicicleta no meio fio e bateu palmas, D. Luiza que sempre acordava muito cedo veio atender o mestre da obra. Ela ainda não o havia conhecido, olhou fixamente para aquele homem robusto de bigode e barba muito bem aparados, ele prontamente se apresentou e ela imediatamente reconhecera nele partes do seu passado, hipnotizada permitiu que ele entrasse ao abrir todas as suas portas.

11 comentários:

Anônimo disse...

Um texto bacana... Reforma, mudan�as, em sua grande maioria vem com o ideal de inovar, de fazer o � diferen�a, seja no trabalho, em casa, na vida pessoal, um novo estilo de roupa... �s vezes mtas pessoas mostram uma certa resist�ncia em aceitar o "novo". Mas nesse caso do texto, o desconhecido meio q trouxe o passado atona. Enfim, quem disse q o passado e o futuro n�o podem andar juntos, n�o � mesmo?!...rss ;)

Unknown disse...

Abrir portas!?!
qtas portas inclusas numa vida
e o medo de ousar faz com q fortaleçam as trancas...
Obrigada pela linguagem subliminar. Obrigada por levar-me ao passado e nao encontra-lo mais...
Adoro vc!
És encantadoramente fascinante!

Anônimo disse...

Sabe, Huntress, penso que passamos a vida toda nos reformando. Mudando uma coisinha aqui, outra acolá, ora derrubando uma parede, ora construindo outra. Tentamos inovar as cores para enganar os olhos. No entanto, o cimento que usamos para edificar aquilo que seria totalmente novo é cimento antigo. É a nossa essência que se revela em tudo o que fazemos ou sentimos. Daí reecontrarmo-nos sempre com construções que nos remetem ao passado... É culpa do cimento, o cimento usado para construir a "cena" que carregamos dentro de nós... Talvez D. Luiza não soubesse disso...
Um beijo, amiguinha!**

Anônimo disse...

Eita...mocinha....incrível!!
Parabéns pelo resgate de D.Luiza.
Amei, vc foi perfeita.
Gostaria e muito que continuasse a
nos presentear com esses lindos contos.
Beijo..nessa alma linda!!
Valeu ...
Ro*

Unknown disse...

Mudanças, superações, reformas e recomeços....adoráveis temas. Que vc consiga dar a Dona Luíza muitos momentos de felicidade..estaremos aguardando.
Confesso que não gostei muito da imagem, apesar de bem escolhida para o tema..acho que sou muito romântica para parafusos...rsrsrsrs
Você é especial na minha vida mocinha.
Beijo...beijo...beijo.

Unknown disse...

Pink, Pink... Você leu muito bem as entrelinhas...rss
O passado e futuro andarão sempre ao lado por mais que se queira deixar tudo para trás...
Por mais que se tente, nunca consiguirá apagar tudo que remete a ele, simplesmente porque ele já se transformou em uma parte de nós...
Até a volta... até a próxima... até um dia...
Valeu!:)...

Unknown disse...

Oi Pessoa Mutante...rss
O abrir de portas ao desconhecido é sempre muito difícil, porque temos medo do que estará do outro lado, mas se nunca girarmos as chaves nunca saberemos quem nos espera...
E não vale olhar pelo olho mágico, certinho...rss
Até a volta... até a próxima... até um dia...
Valeu!:)...

Unknown disse...

Voltei para pegar minha caneta que esqueci e, não sei porque, sinto uma deliciosa presença neste instante...rsrsrs. Beijo em seu coração.
Até qualquer hora mocinha..se cuida!

Unknown disse...

Oi Anônimo...
Esse cimento é mesmo para sempre...
Mesmo que chova e lave toda a tinta da parede, ele permanecerá por lá, até mesmo se o mofo o invadir...
O que constitui nossa alma nunca será perdido, pode no máximo ser transformado, mas lá dentro continuará sempre o que somos...
E o que somos, nada mais é que o acúmulo de tinta humana que se passa em nós...
Até a volta... até a próxima...até um dia...
Valeu!:)...

Unknown disse...

Oi Ro*...
Nessa tarde o destino de D.Luiza andou pairando em minha cabeça...
Então fui procurá-la e olhe só onde eu a fui encontrar, abrindo portas...
Eh,D.Luiza é mesmo surpreendente...
E por isso espero que ela volte em minhas idéias novamente...
Até a volta... até a próxima...até um dia...
Valeu!:)...

Unknown disse...

Oi Sorriso...
Talvez o texto merecesse uma imagem mais romântica sim... Afinal, borboletas andaram voando no estômago de D. Luiza...rss
Mas, o prego e o parafuso, para mim, lembram final de reformas, construções e por mais que se limpe todos os cantinhos, depois de algum tempo sempre se encontra um perdido entre as frestas da cerâmica...
Essa foi minha intenção com a imagem, lembrar que sempre encontraremos pedacinhos do passado, mesmo depois de uma grande reforma ou mudança...
Até a volta... até a próxima...até um dia...
Valeu!:)...