domingo, 28 de dezembro de 2008

Palavras de Domingo...


Nunca tive muita afeição pelos domingos, tenho a impressão que eles sempre passam rápido demais e o resultado disso é a péssima sensação de ter visto algo que ficou para trás. Portanto, para driblar esse olhar de retrovisor, fiz dos meus domingos dias de refúgio, dias de silêncio sem programações mirabolantes ou expectantes.
Geralmente, é quando abro as minhas gavetas da alma, caixinhas cheias de segredos, sonhos, sorrisos e lágrimas. Às vezes, o tempo apaga algumas memórias, mas no fundo das gavetas, entre as teias entrelaçadas do pensamento, encontram-se sempre pedaços do que se viveu.
No quarto vazio, na cama desarrumada, a música me torna leve, solta, ela traz uma saudade, uma emoção, um sentimento e em companhia do silêncio das paredes me entrego ao silêncio das palavras, as quais me tocam ainda mais fundo, tocam-me a alma. E de uma forma estranha, aos poucos elas limpam as entrelinhas e ajudam a perceber o que se sente, aquilo que ficou escondido com o pó dos dias de semana.
E assim, vou passando meus domingos, entregue as músicas, palavras e imagens. A magia está nos rabiscos desordenados, as palavras nada mais são que imagens que sentimos, mas também podem ser aquilo que queremos que sejam, muitas das vezes escrevemos palavras soltas, que quando formam uma frase, mostram o que realmente somos e o que sentimos de verdade, por vezes dizemos que não e nas palavras toda a alma grita que sim. As palavras soltas da alma são a nossa verdadeira essência, não nos escondemos, nem nos desculpamos, somos cada uma delas, feias ou bonitas, sem qualquer tipo de qualificação, porque as palavras soltas são palavras sentidas.


sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Metamorfose


Como uma borboleta que acaba de romper o invólucro da pupa, movimenta suas asas para sentir os novos ares. Acordará cedo, na cabeça inúmeros planos, projetos e afazeres. Cronometrou o tempo, traçou caminhos, afinal, estava quase pronta para mudar de fase, quase pronta para nascer.
Acomodou-se na poltrona, observou ao seu redor, somente desconhecidos, logo, remeteu ao seu novo vôo, não sabia se já estava preparada, mas havia chegado o prazo dado por sim mesma, precisava cumprir mais essa meta e lá ela estava, porém toda ansiosa, só mesmo a forte chuva desviava seus pensamentos.
Queria chegar o mais rápido possível, o relógio já fatigado, resistia aos solavancos do afoito braço irrequieto. Desenhou, brincou, digitou e cantarolou. Fez tudo que ela mais gostava de fazer em suas horas vagas, mas nada adiantava, no peito o aumentar da angústia em esperar.
Enfim, eis a chegada. Dia nublado, céu nebuloso e pelas ruas escuras correntezas d’água, coisas que inflavam seus medos, temia que algo não saísse da maneira que planejava. E aquela sensação que tanto a desagradava invadiu e tomou seu corpo, movimentos e pensamentos desconexos, estava perdida, segundos e minutos de apreensão, aff...
Deu tempo ao tempo, deixou com que as coisas acontecessem, lutando contra suas convicções bloqueou seus planos, apenas permitiu que tudo se resolvesse, ela que andava ainda mais descrente, voltou a acreditar no poder do destino, na interseção do acaso ou da sorte, e por isso, então soltou: “o que tiver de ser, será”.
E por fim, acabou sendo, depois de lutar contra a resistência do casulo, havia se libertado e estava de encontro com seus próprios ventos, tentava desenhar no ar sua tamanha felicidade, no seu rosto um sorriso largo e bobo, não visto pelos olhos, mas percebido e gravado pelo olhar cardíaco e nele, no coração, batidas amenas, resultado da satisfação em ser vitoriosa nessa sua nova conquista. Que bons ventos venham, limpe esses céus e que na manhã seguinte, outras borboletas também possam vir brincar.