sábado, 8 de novembro de 2008

Apenas degraus


Pés se equilibrando no meio frio, olhos a diante, braços abertos como quem espera um abraço e no coração uma saudade latente. Desviar de degraus nunca foi sua maior habilidade, não percebia os desníveis do solo, tão pouco de sua vida. Há muito viveu presa em suas construções de papelão, pequenos desenhos que se desmanchavam com os pingos de chuva e no chão apenas as marcas de seus sonhos.
Estava a experimentar novos territórios, descobriu que podia voar sem asas, desistiu então de inventar planos miraculosos, percebeu que o simples sempre era o melhor caminho. Desafiou seus manuscritos e se entregou aos sentidos, houve dias de sacrifício, pensamentos dolorosos e perturbadores, aqueles que afastam o sono e alimentam pesadelos.
Os dias passam, os passos se transformam em rastros e tudo ao redor se resume em encontros e reencontros, desabotoou os botões que prendiam seus medos, aprendeu a ouvir os sinais e entendeu que a vida tem perigo, mas não que ela seja o perigo. Resolveu viver um dia de cada vez, o início de sua vitória sobre os degraus.