segunda-feira, 1 de março de 2010

Literalmente: O Orgasmo.



D. Luiza poucas vezes pediu desculpas, não por não sabê-las pedir, mas sim, por deixar seus pensamentos conflitantes guardados em seus saquinhos de verdade, preferia abster de problemas e discussões a se indispor com outrem. Com o tempo, poucos se lembravam do tom da voz de D. Luiza, nas reuniões ela sempre com seu olhar disperso, mas atento a qualquer fitar de olhos clandestinos. Interrogada sobre os últimos acontecidos, ela dizia apenas nem que sim, nem que não, achava um desperdício trocar seu valioso silêncio por assuntos tão vazios, ocos como a madeira do banquinho que ela havia sentado, descobriu isso ao bater com as pontas dos dedos, buscando fazer outro som, além das vozes empolgadas de suas companheiras de reunião.


Pode até parecer que D. Luiza é uma dessas mulheres ranzinzas que adoram um velho chinelo, sofá, almofada e um monte de sacolinhas com linhas e agulhas. Ela pode até mesmo gostar de algumas dessas coisas, mas não necessariamente nessa ordem, tirando os chinelos, do restante ela não abre mão, não gosta de ter os pés presos, ao contrário, se permitia andar pela casa descalça, queria aproveitar o frescor do piso, aliviava o calor da estação, além de lhe proporcionar mais um desses pequenos prazeres que se perdem quando se está numa dessas intermináveis reuniões.


Contava os minutos para que se servissem o chá, era a hora da folga das palavras alheias, momento em que ela seduziu as colegas com um de seus contos, deixou todas as amigas de boca aberta, entre cada palavra um suspense, entre cada suspense um suspiro, via agora todos os olhos em sua direção, podia saborear todas as reações em apenas segundos. Nesse encontro ela já havia surpreendido a todos, mas quando começou a narrar as cenas eróticas, sutilmente descritas em duas folhas de papel ofício, causou um furor geral, logo ela, ela que nunca pronunciava, apenas lia uns os recadinhos piegas, deixou todas curiosas sobre a origem daquelas cenas, quanta criatividade!


Todo seu público tinha a face ruborizada, nem o quente chá seria capaz de tal feito. Após um gole no seu café preto amargo, ela leu suas últimas linhas, sua voz, antes companheira do silêncio se vez impor no recinto, ouvidos atentos, mãos paralisadas, todas sem reações, apenas no intuito de finalizar aquele conto surpresa e D. Luiza finalizou da seguinte forma: “Seu corpo cintilava uma energia incapaz de ser contida, movimentos involuntários a deixavam cada vez mais entregue, os olhos a rodopiar não sabia onde mirar, perdendo completamente a noção do tempo, quanto mais do que acontecia lá fora, apenas queria saber e sentir o agora e o que havia dentro dela”.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Medo da culpa de amar


Tenho culpa...
Culpa de amar o que seria "inamável"...
Culpa de não me arrepender de amar...
Culpa de sentir bem ao amar...

Tenho medo...
Medo de não poder parar...
Medo do que me faz bem...
Medo da culpa do amar...

Amo...
O que está fora...
O que está ao lado...
O que está dentro...

“Se todo medo pela culpa de amar o que está fora, ao lado e dentro fosse maior que meu medo não ter tido esse medo, hoje eu seria uma culpada medrosa sem amar”


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Gramática do amor


Não escrevo só para expressar o que abafa minha fala, mas escrevo por ter a necessidade de não deixar as palavras serem carregadas pelo vento, a correria de uma vida atribulada faz vendaval nos dicionários, embaralha todas as letras e por si só faz incompreensíveis todas as frases.

Ainda bem que nos resta a língua do amor, idioma unânime em todo o mundo, ou melhor, entre todos os seres, fácil compreender um olhar de querer bem, um sorriso de felicidade, um afago de carinho ou um beijo de paixão, simples como deveria ser todas as coisas, mas complicamos tudo, criamos regras gramaticais para o amor, grupos de fonemas, conjunto de palavras, regências e um monte de associações que deixam quem realmente tem o prazer de amar com vontade de ter um coração analfabeto.

O amor não cabe medidas, regras ou sínteses, no amor só nos cabe amar, por mais bobo que possa parecer. Ele é o que mais de verdadeiro é nos permitido viver, algo que jamais se compra ou vende, ou se troca, ou se empresta, por ser único apenas pode ser compartilhado...