quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

The day after


Da última noite daquele ano apenas ficaram impregnados o cheiro da pólvora dos fogos e a fragrância do lança perfume que cobria todo o salão. Não se via mais ninguém pelas ruas, apenas alguns rastros de confete que com a força do vento iam sendo levados para junto ao meio fio. A porta da padaria estava entre aberta, sinal de que já se havia iniciado o feitio dos pães de um novo ano.
Exausta por ficar a noite acordada, D. Luiza só queria o repouso e o conforto de seu sofá marrom, há muito ela não o desejava tanto. Ainda faltavam alguns quarteirões até conseguir encontrar a fechadura que caberiam aquelas chaves que em sua mão deslizavam por entre os dedos como se fossem contas. Ao seu lado Sr. Pedro caminhava lentamente, desviando das pedras maiores do calçamento, parecia continuar dançando alguma canção tocada no baile.
Foi uma noite diferente na vida de D. Luiza, ela nunca tinha ido a um baile de Reveillon, seu primeiro namorado e marido não gostava muito dessas comemorações, preferia ficar em casa vendo tudo pela televisão. Quanto a ela, o acompanhava sentada no sofá marrom e entre um cochilo e outro via o estourar de fogos na praia de Copacabana, era essa a época do ano em que sentia a falta que fazia um filho.
Não podia ter filhos, algum tempo depois do casamento ela passou por uma cirurgia que lhe retiraria um tumor e o sonho de ser mãe. Pensou em adoção, mas depois de tantos desencontros acabou adormecido o desejo, por fim se acostumara à vida a dois.
Depois de mais alguns minutos de caminhada estavam em frente ao portão de casa, Sr. Pedro com paletó na mão e camisa já desabotoada apoiou-se no muro, enquanto D. Luiza buscava entre o molho de chaves a que abriria o cadeado, depois de algumas tentativas eis que o clique soa, portas, olhos e bocas abertas. Ébrios de susto não acreditavam no que viam. Entreolharam-se e sem saber o que dizer ou perguntar apenas algumas lágrimas deixaram escorrer de seus olhos.
Alguém havia deixado um embrulho naquele dia seguinte e nesse primeiro dia de um novo ano, D. Luiza reacendeu a chama de sua vida com possibilidade de ser mãe.

5 comentários:

Anônimo disse...

Oh Mocinha...obrigada pela volta de
D.Luiza...viu como tdo tem seu tempo e sua hora...
Ela achou a pessoa certa e curtiram
o reveillon até de madrugada..rss..
Qdo estamos com alguém "especial" perdemos até a noção da hora...
Parabéns, pela imagem e conto !!
Vc realmente é incríve !!
Abraço...
Valeu..
Ro*

Anônimo disse...

Olá Lú! Começa-se mais um ano heim... e já com um textinho encantador... Pois é, embrulhos assim, certamente é de se trazer alegrias e bons momentos por toda uma vida! A todo tempo alguem nesse mundo recebe um embrulho especial, seja um sonho ou desejo realizado, o encontro de alguem muito querido ou até mesmo um cachorrinho ou gatinho que vem a lhe seguir pela rua até o trajeto de sua casa, e derrepente fica ali na sua porta...rsrs Enfim, embrulhos, são tão cheios de surpresas, não é mesmo?!...

Anônimo disse...

Ops!.. sou eu acima, pink!...rsrs esqueci de me identificar!

Unknown disse...

D.Luzia...como nos surpreende!!!Maravilhosa imagem, conjugada com belo texto sobre uma figura que nos parece bastante conhecida!!!
Bela surpresa mocinha...
Beijos doces com muito carinho de quem te adora!!!
Paz e luz!

Anônimo disse...

Seu texto é uma exemplo de que, na vida, "todo tempo é tempo". Muitas vezes, pensamos que um determinado sonho se dissolveu sem nos deixar a menor esperança de concretizá-lo. Entretanto, de repente, quando menos esperamos, eis que ele surge prontinho aos nossos olhos.
No fundo, amiguinha, a vida é um palco em que tudo é possível enquanto estivermos atuando. Desistir, acredito, é morrer aos poucos...
Beijos!**