quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Ao meio


O meio-fio convida, sento e acendo um cigarro.
Nunca liguei em estar no chão,
Risco o fósforo na pedra,
Rabisco o que não sei...

As ruas são estreitas, nada de avenida.
Desafio o risco, divido espaço com os carros.
Coração feroz passa veloz.
Amanheço na contra mão...

Imagino a volta que a esquina da vida dá,
Descendo a ladeira vejo o menino brincar...
Miro o olhar, gosto de brindar.

Perco a saída, nada está no lugar...

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Desfragmentar


Desfragmentar sentimentos não é tarefa fácil, separar pequenos pedaços de lembranças, cheiros, cores, catalogar tudo nas pastas da realidade e do sonho, do passado e do futuro, tudo muito misturado...

Parece impossível, é cansativo, por vezes, doloroso demais, como uma ferida que não cicatriza. Limpo as bordas, tomo remédios, cubro, mas o vento e o pó insistem em invadir a gaze. Novamente dói.

O que me empolga e contagia está num copo vazio, liberdade inconsciente, ações e reações, atos e consequências, traumas na manhã seguinte.

Quero mergulhar, ir fundo, esvaziar e ver o que me sobra, deste corpo, preciso de uma chama, um gatilho para a vida. Uma alegria verdadeira, um sorrir despretensioso, a fagulha que socorre.

Nesses dias de silêncio, minhas mãos agitadas gritam, meus olhos percebem o que não vi e escuto que ainda há barulho de pássaros. Que ainda há vida. Esperança.
Um monte de fragmentos coloridos, embaralhados, misturados, mas mesmo assim, ainda coloridos, vivos.