segunda-feira, 30 de junho de 2008

De volta


Os dias passam e as noites encobertas dão o tom da estação, depois de um período de distância D. Luiza regressa para seu abrigo, no passeio folhas secas tomam conta dos ladrilhos, as janelas fechadas e tapadas pelas cortinas sinalizam que a casa está vazia. Sutilmente, como sempre, ela atravessa o jardim e se depara com a porta, busca por entre o molho de chaves aquela dourada que há muito não empunhava, olha fixamente para a fechadura e como quem toma uma grande decisão estica o braço e gira a maçaneta. Acabava de retornar a cena de seus últimos pensamentos.

Ao primeiro passo encontrou alguns bilhetes espalhados no chão, pela poeira acumulada supôs que havia alguns dias que já estavam por ali, ela ainda achou outros mais novos embaixo da mesa. Abriu uns, leu rapidamente e viu que alguém totalmente inesperado havia sentindo sua falta.

Pôs-se no sofá, encostou a cabeça nas almofadas e olhando para o lustre deixou se guiar pela música que vinha do vizinho, seus pensamentos ainda embaralhados buscavam alento no passado, nos momentos felizes em sua sala de estar ou simplesmente nos dias em que sua vida não se resumia em lembranças.

Fechou os olhos e concentrou-se ainda mais na música, tinha a sensação que já havia a escutado antes, talvez em algum filme, mas como nunca se lembrava mesmo, desistiu de pensar e apenas ficou a sentir. Em meio ao som do piano e da flauta, um toque de campainha invadiu sua casa. Sem acreditar olhou para o lado, atrás da porta uma sombra denunciava uma visita.

Relutando contra seu cansaço pós-viagem, levantou e dirigiu-se a porta, quis espiar por entre as frestas, mas o oculto não se pôs numa posição observável e como quem toma uma grande decisão, ela repetiu o gesto feito há bem pouco tempo, esticou o braço e girou a maçaneta. Acabava de retomar a cena de seus últimos pensamentos, estaria ela pronta para se apaixonar novamente?

domingo, 15 de junho de 2008

Anjos de asas


Em pé, seus olhos se encontraram, suas mãos se tocaram e seus corações sentiram num instante de silêncio tudo em volta rodar. O tempo que há dias atrás passava tão lentamente, agora voava...

Pelos vãos da cortina frágeis raios de sol, esse já se pondo anunciava que a noite havia tomado conta do dia, acompanhavam a mudança do tempo e dos seus tempos, enfim os relógios estavam ajustados, minutos e segundos se encaminhando para as suas horas.

Curtas e intensas horas, um desejo de um pouco mais, bom sinal! Dizem por aí que quando as horas passam rápido, quer dizer que houve nelas agradáveis momentos. Sim. Muitos bons momentos...

D. Luiza estava a brincar com seus sonhos, havia se tornado refém de sua prisão imaginária, uma refém que se liberta de todos os seus medos ao estar com quem gosta em sonho. Seu corpo leve tomava conta da cama, esquecia por instantes a presença do marido que já não a tinha como antes. Ela que se apaixonara perdidamente por uma voz, agora se entregava a um anjo de asas que atrevidamente invadia sua vida, deixando a sem reações, mãos e pernas se entrelaçavam ao travesseiro, olhos cerrados mantinham-na acompanhada e suspiros silenciosos denunciavam prazer.

A noite veloz finda no despertar de D. Luiza, ela se arruma rapidamente para mais um dia, mas não se incomoda muito, pois sabe que anjos sempre estão por perto e que no mais tardar ela o reencontrará, e assim poderá manter sua expressão de boba e seu coração meio que cor de rosa.

domingo, 8 de junho de 2008

Somente em Domingos...


Com os pés descalços ela sentia a brancura fria dos azulejos do banheiro, deixava com que a água afagasse os cabelos que sempre mantinha presos por temer o vento, a cabeça doía um pouco, não tinha dormido direito. Mil pensamentos roubavam-lhe os sonhos, nos ombros marcas deixadas pelas dores do mundo...


Tentava aquietar a mente, seguindo a água que lhe percorria o corpo, com os olhos baixos a acompanhava fugir por entre seus dedos, ficando uma sensação de que havia deixado escapar mais alguma coisa...


Escolhas, muitas e difíceis. Será que ela tinha se perdido no caminho ou o caminho que havia se perdido dela? Fechou os olhos e sacudiu a cabeça, as coisas pareciam incertas, mas ela não estava perdida. Sabia quem era, apenas, não se reconhecia diante ao espelho, suas expressões não condiziam mais com sua alma. Apoio-se na pia e suavemente se enxugava. Era dia de Domingo, algo de bom haveria de acontecer...

PS:. Texto escrito a quatro mãos e duas telas, uma pintura do que pode se criar através de pensamentos distantes... Obrigada senhorita Narradora!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Ver para crer, será?


Hoje estava por conta do à toa e sai por aí buscando um pouquinho de palavras, perdida por esse mundo de blogueiros encontrei cantinhos cheios de vida, devaneios, histórias, estórias, mas acima de tudo, pude encontrar alento. Gosto de desvendar o que há nas entrelinhas, sentir prazer ao descobrir algo implícito no pensamento de alguém desconhecido, vencer mais um desafio ao encontrar algo que me toque os olhos...

Mas agora estou pensando nisso, nesse constante desafio de estar próximo, de querer ver e compreender tudo...

Engraçado que sempre quando essas idéias vêem em minha cabeça, lembro-me dos dizeres do Príncipe pequenino, aquele que possuía cabelos com cor de trigo, ele que brincava com a racionalidade dos adultos dizia: “Os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração.”

Definitivamente, as pequenas coisas que nos são valiosas, como respeito e bem querer estão sendo engolidas pelo tempo, devoradas pelos afazeres imediatos e infelizmente, digeridas como a última bala que se dissolve rapidamente na boca...

domingo, 1 de junho de 2008

De passagem


Numa noite qualquer, talvez numa dessas de Domingo com futebol...
Onde a poltrona não é mais a melhor amiga...
E as manchetes só anunciam as mesmas notícias do jornal...
Dá uma vontade de desligar tudo e embaixo das cobertas ficar...
Mas, há que uma gota de chuva dessas inesperadas...
Toca o vidro da janela e o som desperta que andava adormecido...
Pode ser sinais de fumaça, quem sabe um pedido de ajuda...
Momento em que anjos devem saltar da cama e agitar suas asas...
Hora de sair sobrevoando os céus...
E com os olhos fechados e coração aberto buscar por entre as nuvens...
Seja uma simples borboleta ou o mais belo girassol...
E nesse momento de paz sentir tudo em volta transforma-se...
Mandar tudo que sufoca nos dias de rotina passear...
E apenas sair por aí cumprindo a missão de estar aqui só de passagem...
Tocando nos e fazendo com que algo seja diferente...