quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Língua do coração


Estou aprendendo a falar com o coração...
Depois de grandes lutas contra o império da racionalidade...
Tenho deixado a emoção atravessar as pontes...
Acomodando-se agradavelmente na minha sala de estar...
Não me refiro somente a sentimentos passionais...
Mas, outros além...
Especiais presentes vindos dos céus e entregues por mãos divinas...
E ao abrir cada um deles, vou percebendo que nada sei ainda...
Pois todos têm se revelado, a mim, como surpresas...
Ensinando que realmente devo considerar o que se faz importante...
E não aquilo que suponho conhecer...
Apesar do medo em entregar-me a essas novas sensações...
Começo a ver as coisas de uma outra forma, mais simples e transparente...
Pois o que importa não são as expectativas ou projeções...
Mas, sim, o sentir...
E aquele espertinho do Pequeno Príncipe soube fazer isso como ninguém...
Feliz de sua rosa que se sentia única entre todas as outras...
Pois sabia, que mesmo distante tinha alguém responsável por ti...
Desejando que estivesse protegida em dias de ventania...
E feliz ao receber pequenos pingos de água em suas pétalas...
Só se é cativado quando se permite sentir o afeto oferecido pelo desconhecido...
E sem esperar que o nosso seja correspondido...
Desarmando-nos dessa habitual praticidade em lidar com os sentimentos... Afinal, eles não são nenhum tipo de moeda financeira...

sábado, 27 de outubro de 2007

Respirar é lembrar


Uma frase de uma canção tem povoado meus pensamentos...
“Só enquanto eu respirar, vou me lembrar”...
O que deve ser guardado por uma vida inteira...?
Muitos responderiam que o verdadeiro amor...
Porém, a maioria só o guarda depois que perde...
E o fim que parecia ser belo...
Torna-se incerto por demais e sobram apenas lembranças...
Aquelas que nos fazem chorar na chuva...
E entre os respingos no rosto escondem-se as lágrimas...
Mas, a chuva passará...
Como também as recordações...
E nessas idas e vindas...
Com a alternância do sol e da chuva...
O coração que ainda bate e você que ainda respira...
Permanece lembrando de algo que teve...
E que hoje, somente faz parte de memórias...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Pode ser pior


Tenho pena das aranhas solitárias presas em porões...
Elas que passam todo o tempo construindo teias...
Perdem o encanto que há no toque do vento...
O cariciar das águas movidas pelas ondas do mar...
O belo encontro de montanhas e vales...
E os sublimes entardeceres, onde a lua rouba o brilho do sol...
Pequenos instantes de felicidade que a vida nos presenteia...
E que por vezes se perde por ter outras coisas a fazer...
Agora penso nas aranhas novamente...
Elas que já perdem todas essas formas de prazer...
Ainda correm o risco de encontrar sua teia vazia ao final do dia...
Realmente, a vida poderia ser muito pior...

sábado, 20 de outubro de 2007

Uma reforma


Era uma manhã fria do mês de Agosto, o sol timidamente cortava com seus fracos raios a neblina, que cobria as ruas daquela pequena cidade do interior. Pelas calçadas vestígios de uma noite de chuva e as poças refletiam a imagem de D.Luiza, que andava calmamente desviando-se das folhas acumuladas pelo vento.
Depois de dois anos após a perda de suas paixões, ela havia se mudado de cidade, pois tudo a lembrava aquele dia de perda. Então, driblando o medo de ficar e mesmo o de partir, mudou-se de ares, tinha uma parenta, também viúva, que a convidará a morar contigo, disse que assim, as duas se faziam companhia e que também poderiam superar juntas a falta que sentiam dos maridos.
Sem ter muitas opções, D.Luiza aceitou o convite, vendera a sua antiga casa, doou os móveis e entregou as roupas do falecido para o asilo, subiu para o ônibus apenas com o dinheiro e a roupa que estava no corpo. Rompia definitivamente com tudo aquilo que a prendia ao passado.
Mas, as suas madrugadas eram cruéis, a conduziam, inconscientemente, as marcas deixadas por aqueles dias de tempestade. E como se não houvesse nenhum abrigo seguro isso ainda a atormentava. Muitas noites de pesadelo se acumularam, ficando ela com saldo negativo em sonhos, mas, com o tempo toda a poeira se assentou e foi quando ela começou a respirar com mais facilidade, sem sentir o peso do pó em seus pulmões.
Judite, sua agora companheira de casa, quis fazer uma reforma, achava que as paredes estavam feias e mofadas, como seu coração, queria mais vida por ali e então uma obra ela decidiu iniciar. Consultou um amigo que entendia de construções e saiu em busca de alguém que pudesse lhe mudar as paredes e a alma.
Depois de muito pesquisar, pois não queria alguém que não fosse de confiança dentro de sua casa, principalmente elas sendo tão sozinhas, isso poderia dar o que falar, então, ela contratou Seu Pedro, senhor distinto, bom pedreiro, afamado por toda região, sabia aplicar uma textura como poucos e, além disso, era rápido. Ficaram acertados todos os detalhes e cores, marcando o início da reforma já para o dia seguinte.
Logo cedo, quando mal os galos haviam cantado, ele encostou a bicicleta no meio fio e bateu palmas, D. Luiza que sempre acordava muito cedo veio atender o mestre da obra. Ela ainda não o havia conhecido, olhou fixamente para aquele homem robusto de bigode e barba muito bem aparados, ele prontamente se apresentou e ela imediatamente reconhecera nele partes do seu passado, hipnotizada permitiu que ele entrasse ao abrir todas as suas portas.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O que é o amor


Choveu hoje e eu adoro dias assim...
Com céu nublado e respingos na janela...
O silêncio quebrado pelas goteiras me faz sentir menos só...
Acompanho a enxurrada levar as folhas derrubadas pelo vento...
Invejando a mudança das ruas após a chuva...
São lavadas e ao final sempre estão diferentes...
Tudo fora de lugar e de repente uma nova imagem...
Tenho andado muito à flor da pele...
Tantas coisas acontecendo que mal percebo meus dias passarem...
Novas possibilidades se abrindo e eu sentindo tudo tão intensamente...
Permitindo-me provar as mais variadas sensações...
Experiências que vou carregar para sempre...
E tudo que tenho vivido tem sido especial demais...
Estou aprendendo a parar de olhar minha vida pelo retrovisor...
Valorizando menos o que se passou e ficou mais distante...
Há muitos sonhos a serem conquistados ainda...
E saber lidar com isso é um constante desafio...
Por isso dou valor em cada pessoa que cruza o meu caminho...
Assim, vou tendo consciência do que vivo e acima de tudo, do que sinto...
Porque cada pessoa que passa é única...
E umas conseguem tocar tão profundamente nosso coração...
Que mesmo se afastando o sentimento permanece...
Tornando se inesquecíveis, sendo então, guardadas no meu melhor lugar...
E esses sublimes momentos da vida...
São as lindas lembranças que prevalecem na memória...
Simplesmente, porque amar é querer bem...
Amor é cuidado, compreensão, afeto incondicional...
Um sentimento espontâneo por qualquer coisa que lhe faça bem...
Fazendo com que a vida se torne cada vez mais limpa...
Mesmo depois da lama deixada pelas águas da chuva...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Namorico


- Oi...
- Olá...
- O que você está fazendo?
- Namorando...
- Mas só?
- Lógico que não.
- Hum...
- Olhe lá, ela é linda...
- Não vejo nada além de um céu com estrelas.
- Ali, olhe, perto daquela nuvem...
- Por acaso você anda namorando com uma estrela?
- Sim. Por que não? Elas são tão lindas...
- E isso te faz feliz?
- Muito!
- Hum... Será que teria alguma afim de mim?

domingo, 14 de outubro de 2007

Pegadas


Como seguir adiante sem deixar rastros pelo caminho?
Mesmo estando o vento a guiar eles se multiplicam...
Deixando sempre uma sensação de que algo ficou para trás...
Mas, não esquecido...
Na praia em companhia de sombras marcas ficam na areia...
E parte daquela areia impregna os pés cansados de alguém que foge...
Distanciando se cada vez mais das águas...
As ondas do mar, agora agitado, tentam alcançar...
Mas, somente, sobram lhe as pegadas de quem por ali passou...

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Vida no asfalto

Há dias em que tudo parece representar o fim...
Os sonhos se tornam pesadelos...
E o bom dia de um estranho uma provocação...
Mas, como mudar tudo ao redor?
Entregar se a páginas de livros seria uma alternativa...
Mas, as palavras só tocam os que as sentem com o coração...
E, nesses dias, é complicado deixar o coração exposto...
Então, deixar tudo e sair por ai talvez seja uma boa...
Sem direção andar por diferentes ruas e avenidas...
Lugares desconhecidos sempre nos presenteiam com belas surpresas...
Como topar em uma flor que nasce em pleno asfalto...
Ela tão frágil e susceptível demonstra que nada é para sempre...
E que por mais difícil que se apresente um problema...
Quando se tem a esperança renovada com o nascer de um outro dia...
O final sempre nós reservará mais um dia de sol...

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Super-herói


Para viver a mercê do vento...
Tem que ser um pouco super-herói...
Porque nem sempre ele nos guia para onde o coração quer...
E suas forças são ainda mais fortes que nossas vontades...
Possibilitando que encontros e desencontros aconteçam...
Como faz ele em dias de sol e chuva...
Consegue carregar até as mais pesadas nuvens...
Muda as cores do céu e esconde, a seu gosto, o brilho do sol...
É quando o dia fica cinza...
Triste...
Nessas horas, é que se usa a fantasia com capa de herói...
Espere pelo momento certo, afinal, tudo tem sua hora e local...
Só então, estando já de braços abertos se entregue...
Permita-se a aproximação...
Deixe que ele vá aos pouco lhe tocando...
E sutilmente, nesse toque roube toda essa força que ele possui...
Agora, se faça ainda mais forte...
Sopre todas as nuvens cinza que passeiam pelo seu céu...
Veja aparecer o azul e o brilho do sol...
E o dia ficando cada vez mais...
Feliz...

sábado, 6 de outubro de 2007

Conceitos e certezas


Quando certos sentimentos inesperados nos atingem...
As atitudes tomadas são desconhecidas...
E impulsivamente é delatada a vontade de estar mais perto...
De poder sentir o afeto por completo...
Mas, dúvidas e incertezas bloqueiam contatos a mais...
E essas estranhas reações que se tem...
Resultam na necessidade de se afastar por um tempo...
Um momento de fuga onde se tenta comprovar o que é sentido...
No intuito de simplesmente nomear essas novas sensações...
Engraçado, conceituar o que deveria apenas ser sentido...
Porém há o desejo de julgar, reafirmar...
E isso de certa forma é natural...
Pois somos todos frágeis no que diz respeito ao passional...
Porque sempre buscamos relações bivalentes...
E quando não se tem a "certeza" dos sentimentos alheios...
Tudo fica inseguro por demais...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

A vida é um traço


Estava eu sentada num desses banquinhos de boteco a conversar...
E um dos camaradas que suavemente levantava o copo de cerveja...
Disse uma frase que logo me fez desviar o olhar para ele...
Àquela altura, já não tinha idéia do que realmente pronunciava...
Mas, o fez de uma forma tão natural que parecia ser o dono da palavra...
Enfim, quando ele soltou que a vida é um traço...
Eu que não havia bebido fiquei chapada...
Parei para refletir no quão é intensa essa afirmativa...
Se pensarmos que um traço, significa deixar marcas sobre algo...
Realmente a vida pode ser definida assim...
Somos um conjunto de pontinhos formando um rastro...
Que possivelmente poderá ser encontrado no futuro...
Fiquei imaginando como caiu bem essa associação...
A vida ser um traço e não um risco...
Riscar expressa que uma parte foi removida de algum lugar...
E a existência não é isso...
Pelo contrário, é o acúmulo de intersecções entre os diferentes traços...
Ou seja, viver é sair por ai deixando um pouco de você...
Para que suas partes sejam também minhas...
E as minhas as de alguém que eu ainda não conheço...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Bolinhas de sabão


- Não me empurre, devagar!
- Mas não sou eu...
- Aff...
- São as outras. Não tenho culpa sou pequena e não as consigo segurar.
- As estoure então, ora bolas!
- Mas isso é pecado, crueldade. Elas são como a gente...